Entrevista Pimentel: objetivo nas eleições municipais é derrotar a direita

O ex-Governador Fernando Pimentel e atual Presidente da EMGEA – Empresa Gestora de Ativos concedeu entrevista ao Boa Noite 247, com a participação dos jornalistas Tereza Cruvinel, Jeferson Miola, Florestan Fernandes e Mário Vítor Santos. Abaixo transcrevemos a parte em que ele avalia o cenário eleitoral em Belo Horizonte e outras cidades do Estado de Minas Gerais, trecho este que pode ser conferido a partir de 1:42:25 até 1:53:20 do programa.

Mário Vítor Santos: Governador, o PT anda com dificuldades em algumas cidades, especialmente na capital, não é, para retomar antigas eleições muito bem sucedidas. Qual é a sua visão a respeito do cenário para as eleições municipais em Minas Gerais, em especial na capital?

Fernando Pimentel: Olha, Mário, é uma pergunta difícil de responder sem uma reflexão. Eu acho assim: Belo Horizonte mudou muito. O Brasil mudou, né? O Brasil mudou e a gente tem que, de alguma forma, absorver isso, tentar entender que mudança foi essa, né? Eu fico surpreso quando vejo que, na última eleição presidencial agora, o Lula, que sempre tinha ganho as eleições em Belo Horizonte, perdeu no segundo turno para o Bolsonaro com 130.000 votos de diferença contra nós. Então, é uma mudança muito forte, muito profunda. Me choca pensar que em Belo Horizonte, em Minas Gerais, o deputado mais votado do Brasil teve 1,0 milhão e meio de votos, um número absolutamente surpreendente. Esse jovem, Nikolas Ferreira (PL) teve quase 500.000 votos em Belo Horizonte. É uma coisa absurda!

Tereza Cruvinel: E aquele senador que também que se elegeu…

Fernando Pimentel: Senador Cleitinho (Republicanos)! Com todo respeito com a pessoa, mas é uma pessoa que não tem a mínima qualificação para isso. No entanto, foi votado. Foi eleito. Então, assim, uma mudança muito grande do cenário, dos personagens e das escolhas do eleitor. Eu atribuo isso, em larga medida, ao que sucedeu no Brasil nos últimos 10 anos. Digamos que é um pouco o triunfo da antipolítica, né?

Esses quadros, que eu mencionei, e outros tantos por aí que a gente pode dizer, são frutos desse ambiente que foi criado de ‘contra a política’. Não é contra o PT apenas, mas é contra a política de maneira geral. É contra a democracia, né? É como diz o Pablo Marçal (candidato a prefeito em São Paulo pelo PRTB) e o próprio Nikolas nas campanhas dele e o próprio Cleitinho: ‘é contra tudo isso que está aí’.

Isso que está aí envolve coisas certamente questionáveis, ruins, mas envolve a grande conquista do povo brasileiro, que foi redemocratizar esse país, derrotar a Ditadura e trazê-lo para estatura que ele tem, ele tinha e tem ainda, quando nós elegemos o Lula e quando elegemos a Dilma. O Brasil chegou a ser a sexta, a sétima economia do mundo. Um país que dava exemplo pro mundo inteiro de políticas sociais. Então, que história é essa de ser contra isso tudo que está aí? Bom, é uma longa discussão sobre isso. Não cabe aqui.

Nós temos que voltar para o cenário de Belo Horizonte para dizer o seguinte. Eu fico muito cauteloso em fazer prognósticos eleitorais. Mas eu quero crer que nós não temos segundo turno lá. Isso aí, com certeza, com essa quantidade de candidatos que estão disputando, teremos o segundo turno, né?

O nosso esforço, o esforço do PT é tentar colocar o nosso candidato no segundo turno, que é o Deputado Federal Rogério Correia. Um militante histórico do partido. Tem muitos méritos, mas, sendo sincero, talvez não tenha um perfil adequado para uma eleição de prefeito. Pode ser que o eleitorado não veja nele o perfil. Essa é uma dificuldade, mas nós vamos enfrentá-la, vamos para a campanha, estamos na campanha. Vamos tentar colocar (no segundo turno)!

Se não colocar, de toda maneira, eu acho que o segundo turno da luz note vai ter um desenho assim. Lá estará um candidato de extrema direita, que é esse Deputado Bruno Engler apoiado abertamente, apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro, e um outro candidato, que eu espero que seja o nosso. Se não for o nosso, será alguém mais próximo do nosso campo do que do campo bolsonarista. Pode ser o atual prefeito Fuad (PSD). Pode ser a Deputada Duda Salabert, que é do PDT, é do nosso campo. Pode vir a ser até o Deputado do Republicanos, que está muito bem colocado na pesquisa, que é o Tramonte. O Tramonte é uma espécie de Datena lá de Minas Gerais. Está muito bem na pesquisa. Eu quero crer que qualquer um desses nomes, indo para o segundo turno, vai derrotar o candidato bolsonarista. Eu acho que Belo Horizonte não vai cometer a loucura, o despautério, de eleger, não só porque o jovem esse problema é de direita, extrema direita, mas porque não tem a mínima qualificação para ocupar o cargo de prefeito. Ele não tem experiência de vida, que dirá de administração e de política.

E Belo Horizonte nunca fez uma escolha assim. Belo Horizonte, desde a redemocratização, desde a primeira eleição direta, que foi em 85, se não me engano, nas capitais, elegeu sempre o perfil de prefeito de centro-esquerda. Sempre! Foi assim com o Sérgio Ferrara, que foi o primeiro eleito lá. Pimenta da Veiga (PSDB), Eduardo Azeredo (PSDB), que não foi, era vice, mas, enfim, foi outro lá. Patrus Ananias (PT), Célio de Castro (PSB), eu, Márcio Lacerda (PDT) e até o Prefeito Kalil (atual Republicanos), que, bem ou mal, pode-se criticá-lo, mas ele esteve próximo. Ele é próximo ao nosso campo, inclusive apoiou o Lula e foi apoiado por nós na candidatura a governador na última eleição. Todos os prefeitos com perfil de centro-esquerda, né? Não é o caso desse rapaz, desse jovem aí.

Então, eu quero crer que Belo Horizonte não mudou a esse ponto, a ponto de eleger um candidato baixa qualificação e de extrema direita. Então, minha aposta aqui é que vai ter segundo turno, que num segundo turno a gente derrote o bolsonarismo em Belo Horizonte. É o máximo que eu posso falar a essa distância do pleito e a essa distância também da cidade, porque eu estou, eu estou fora de lá, morando em Brasília já há algum tempo, né?

Jeferson Miola: Isso o que me deu ainda no terreno eleitoral. E se a situação eleitoral em BH ela é ainda indefinida e uma tendência não tão favorável a diretamente ao Rogério Correia é, mas tem outras grandes cidades mineiras onde 3 mulheres despontam com possibilidades. Bem relevantes e o caso da Marília Campos, em Contagem, que aparece em condições de reeleição? Margarida Salomão, em Juiz de Fora, também viabilidade e eleitoral. E na cidade, de Uberlândia, que era 111, revelação política, pelo menos nacionalmente falando. Que a atual Deputada Dandara, né? Que poderá eleger nessa importante cidade, confirma esse cenário. Isso é do seu time? Pode ser um contrapeso ao eventual insucesso na capital e outras cidades mineiras, para o Partido dos Trabalhadores, para a esquerda e no Estado de Minas.

Fernando Pimentel: Viola, não só confirmo, como fico extremamente feliz, gratificado com esses resultados. Por enquanto, resultados de pesquisa, mas que, tudo indica, vão se consolidar. No caso da Marília, a preferência por ela é tão grande, que apostas eu eu quero ver. Porque, senão, vamos errar que ela vai ganhar no primeiro turno. Vai ser reeleita já no primeiro turno, em Contagem. Porque a segunda maior cidade em população, né? A segunda maior cidade do Estado, Juiz de Fora, com a Margarida, está muito bem. Pode ser que haja segundo turno, mas acho que ela ganha. E veja as pesquisas! Ela ganha em qualquer cenário do segundo turno. E consolida Margarida e Marília em 2 cidades importantíssimas!

Uberlândia é a terceira maior cidade. A Dandara, de fato, é uma surpresa, não tanto para nós. Eu a conheço há bastante tempo. Ela foi vereadora em Uberlândia, uma companheira guerreira, militante histórica nossa também do campo. É dos direitos humanos, do campo, da inclusão social. Eu acho que ela tem todas as condições de ganhar. Lá, vai ser mais difícil. Provavelmente, vai ter um segundo turno contra direito também. É uma cidade que nós já tivemos o prefeito de Uberlândia. Nós tivemos o Deputado Gilmar Machado, que foi o prefeito. Não foi reeleito, mas ele fez um belo mandato no período dele. Eu acho que nós temos base suficiente para acreditar que consigamos eleger a Dandara. E vamos fazer alguns outros prefeitos de cidades importantes, cidades médias. Talvez no Sul de Minas façamos (alguns prefeitos), não exatamente do PT. Aí, estou falando de preferência do nosso campo: do PSB, do PDT, que são prefeitos, claramente anti-bolsonaristas.

E eu acho aí, só pra não estender muito, que um grande objetivo nosso nessas eleições deverá ser, deveria ser, e creio que será, derrotar o Bolsonaro, derrotar a direita. A direita está colocada em todos os lugares do Brasil. Para todo lugar que a gente olhar, tem um candidato claramente de direita, assumidamente de direita. É esse que nós temos de derrotar. Se for com o candidato do Partido dos Trabalhadores, ótimo. Se não for, mas se for da nossa base, for nosso aliado não tem nenhum problema.

Essa sinalização, inclusive o Presidente da República, o presidente Lula, nos deu agora recentemente, lembrando a gente : nós estamos aqui, a nossa vitória para presidente foi fruto de uma ampla aliança. E essa aliança tem que ser consolidada e nós temos que mantê-la também nas eleições municipais. Então, acho que é o objetivo número 1: derrotar o bolsonarismo. E aí, depois sim, fortalecer o partido e tudo que for necessário para isso.