Cristianização, frente popular ou continuar na disputa: para onde vai a candidatura do PT?

Faltando praticamente três semanas para as eleições para prefeito, o candidato Rogério Correia do Partido dos Trabalhadores – PT aparece com 5,0% em pesquisa realizada pela Quaest para a Prefeitura de Belo Horizonte entre os dias 8 e 10 de setembro. A candidatura trilhou um caminho de unidade no âmbito do Partido dos Trabalhadores e buscou unificar o campo popular, tendo conseguido o apoio do PSOL, que ficou com a vice da chapa com a Deputada Bella Gonçalves, e da Rede, além dos PV e PCdoB, que compõem a Federação Brasil da Esperança. Não conseguiu unidade com a candidata Duda Salabert – PDT, que vem se apresentando melhor desempenho nas pesquisas.

O apresentador Mauro Tramonte – Republicanos lidera para a Prefeitura de Belo Horizonte, alcançando 27,0% das intenções de voto. Eram 30% em 28 de agosto. Tem o apoio do ex-prefeito Kalil e do Governador Romeu Zema – Novo, tendo como vice Luísa Barreto de seu partido. Fuad Noman – PSD aparece em segundo com 20,0%, pulando dos 9,0% que detinha na pesquisa anterior. Decolou seu nome até então desconhecido. Conta com o apoio do União Brasil, que fez o vice, o apresentador e Vereador Álvaro Damião, e do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB. Bruno Engler – PL tem 16%, seguido por Duda Salabert – PDT com 11,0%. Anteriormente, ambos tinham12%. Engler conta com o apoio expresso do ex-presidente Bolsonaro e melhorou seu desempenho eleitoral, ao contrário de Salabert, que estabilizou.

A pesquisa apontou ainda que Tramonte também lidera nos cenários de segundo turno, com mais de 49% das intenções de voto contra uma possível disputa com Fuad Noman (34%) e 54% em uma eventual disputa com Engler (24%). Contra Rogério Correia, alcançaria 63% e o adversário somente 17%.

Neste cenário eleitoral, os resultados das pesquisas indicam três candidatos da direita com chances de estarem no segundo turno e nenhum do campo popular. Dentre eles, Engler se apresenta como expressão da ultradireita brasileira, que, desde a ascensão de Bolsonaro, vem patrocinando valores retrógrados, difusão de fake news e comportamento belicoso no enfrentamento político. Mauro Tramonte vem demonstrando pouco entendimento dos problemas de Belo Horizonte, e firmou compromisso com Zema, principal expoente da ultradireita no Estado.

Fuad Noman pode ser classificado como centro-direita. Integra o mesmo partido que o Senador Rodrigo Pacheco, que tem atuado de modo propositivo em relação à agenda do Governo Lula 3. Fez aliança com o PSDB, que já participa ativamente da gestão da Prefeitura desde o Governo de Alexandre Kalil (2016-2021). O PT também participou com Rosilene Rocha na Secretaria Municipal de Assistência Social. Outras lideranças do campo popular compõem seu governo como Claúdio Vinícius Leite Pereira na Urbel e Paulo Lamac na Secretaria de Assuntos Institucionais e Comunicação Social, que foi vice de Alexandre Kalil.

Diante disso, várias lideranças vêm se movimentando nas últimas semanas em busca de uma solução eleitoral competitiva no campo popular. Políticos do PSOL Rede e PV, apesar de integrarem a coligação de Rogério Correia, estão em campanha para Duda Salabert e Fuad Noman. Estão em campanha aberta a favor de Duda a vereadora Cida Falabella – PSOL e as candidatas a vereadora Juhlia Santos e Iza Lourença também do PSOL. No caso de Fuad Noman, estão em sua campanha o Deputado Estadual Mário Henrique Caixa – PV e Paulo Lamac da Rede, que integra a administração municipal e a coordenação de campanha.

Lideranças petistas também estão se movimentando, falando abertamente em apoio a Fuad Noman. Como justificativa dessa estratégia, destacam que “o momento exige uma reação enérgica por parte dos democratas e progressistas, sob pena da cidade ser governada pelo núcleo duro da extrema direita”. O Presidente Lula externou essa preocupação em entrevista à jornalista Edilene Lopes da Rádio Itatiaia, no mês de fevereiro. Lula foi categórico: “está cedo para discutir”, destacando que o cenário vai requerer avaliar quem nós vamos enfrentar, sendo preciso atuar para “não cometer o erro de entregar Belo Horizonte a um candidato de extremamente direita ou fascista”.

Em entrevista à TV 247, o ex-governador Fernando Pimentel avaliou o cenário eleitoral do mesmo modo. Segundo ele, “o nosso esforço, o esforço do PT é tentar colocar o nosso candidato no segundo turno, que é o Deputado Federal Rogério Correia. Um militante histórico do partido.” Entretanto, ressalta, dentro de uma reflexão que faz há alguns anos do cenário eleitoral em Belo Horizonte, que Rogério Correia não preenche o perfil esperado de prefeito pelos belorizontinos. Rogério “tem muitos méritos, mas, sendo sincero, talvez não tenha um perfil adequado para uma eleição de prefeito”. A interpretação já externada ao longo dos últimos anos considera que o eleitor belorizontino tem preferência por candidatos que configurem certa figura paterna, que não se apresentem como figura polêmica e que sejam vistos como empreendedores de sucesso. Um conjunto de predicados dos quais os sucessivos prefeitos eleitos em Belo Horizonte foram, de fato, portadores ao longo das últimas décadas.

Neste contexto, o candidato Rogério Correia está a um passo de ser ‘cristianizado’. É evidente que está em curso um movimento para que o candidato passe a ficar na história ao lado do ex-prefeito de Belo Horizonte, Cristiano Machado, e deputado mineiro à Constituinte de 1946. Nas eleições de 1950, candidatou-se à Presidência da República pelo Partido Social Democrático – PSD, tendo sido abandonado ao longo da campanha pelos principais líderes, que passaram a defender a candidatura de Getúlio Vargas, do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, que acabou vencendo a eleição. Daí a expressão ‘cristianização’, para se caracterizar a situação em que um candidato em uma eleição perde o apoio do seu partido político, que passa a apoiar outra candidatura com mais chances de vitória.

De fato, o cenário político-eleitoral é de alto risco e não se pode condenar aqueles que buscam alternativas. Uma possível vitória da direita predatória em Belo Horizonte gerará um sinal muito ruim para a disputa decisiva que acontecerá na campanha presidencial em 2026. O candidato Rogério Correia tem se mostrado um candidato combativo. Reagregou a militância petista histórica e vem apresentando propostas importantes para a superação de diversos problemas da cidade. Empenhou-se também para ampliar o leque de alianças. Entretanto, não se pode desconsiderar o impacto da vitória de um expoente da ultradireita nas eleições de BH. Não podemos considerar apenas o eventual apoio no 2º turno, diante dos cenários prospectivos que as pesquisas indicam.

O tema da consolidação de uma frente popular para combate à ultradireita continua na ordem do dia. Para além da cristianização, cabe se avaliar a possibilidade de se unificar, neste momento, em torno de uma candidatura única. Neste cenário, caberia a unificação em torno da candidatura mais bem posicionada da Deputada Federal Duda Salabert. Certamente, enquanto partido, o PT tem na cidade maior expressão política, mas, na atual campanha, a candidata tem desempenho superior nas pesquisas. Um fato político dessa natureza constituirá um marco na cultura política em Belo Horizonte. Fortalece a liderança política do Deputado Rogério Correia em Minas Gerais para o próximo período e o peso político do partido na cidade.

Um ato político dessa dimensão demanda entendimentos complexos e densos entre lideranças e partidos da federação partidária, relativizando diferenças entre projetos dos candidatos. Envolve a avaliação da resultante eleitoral que pode emergir dessa iniciativa. Envolve definir estratégias para se alinhar um projeto executivo comum para uma futura possível administração municipal no campo popular. De todo modo, muito além da cristianização pragmática da candidatura, uma iniciativa dessa envergadura pavimenta um protagonismo político inédito no país com repercussão nacional e traz alentos para o desafio colocado de efetivamente se salvaguardar a democracia no Brasil.