Um rei bondoso mantinha seu reino em prosperidade, sem fome e promovendo a justiça para seus súditos. Apesar disso, um cidadão respeitado em sua comunidade falava mal de suas realizações, divulgando mentiras, dizendo que ele tinha comportamentos violentos no dia-a-dia do palácio, que batia em seus filhos, que mandava matar os que não concordavam com ele.
Quando as opiniões do cidadão ultrapassaram os limites de sua comunidade para outras do reino, o rei mandou trazê-lo à sua presença. Como o cidadão confirmou todas suas mentiras e não demonstrar arrependimento, o rei resolveu sentenciar sua prisão.
Desesperado, o cidadão pediu clemência. Antes de se pronunciar sobre o pedido, o rei determinou que ele escrevesse de próprio punho num pergaminho, um milhão de vezes, a frase: “é tudo mentira o que falei sobre o rei”, e a assinasse com seu nome.
Passada uma semana, o cidadão voltou à presença do rei com o pergaminho contendo um milhão de frases escritas e assinadas. O rei, então, após conferir os escritos, mandou que o cidadão, ele mesmo, rasgasse todas as folhas de pergaminho e jogasse seus fragmentos pela janela.
Imediatamente, o cidadão, esperançoso de sua libertação, rasgou e jogou pela janela do alto do palácio o pergaminho com as frases dizendo que tinha mentido sobre o comportamento do rei. E perguntou se estava livre para ir.
O rei explicou que a tarefa ainda não tinha acabado e pediu que ele saísse acompanhado pelos guardas e catasse todos os pedaços do pergaminho e os trouxesse para ele. Entendendo o tamanho do desafio, o cidadão desesperado contestou:
- Mas isso é impossível, Vossa Majestade! O vento levou pedaços para lugares que eu não vou saber quais e, assim, não vou conseguir trazer à sua presença todos eles.
- Isso mesmo, caro cidadão! Como o vento levou os pedaços para lugares que você não saberá, também as mentiras que você contou sobre mim foram parar em corações e mentes que não sabemos quais foram. Portanto, não posso lhe conceder clemência, porque assim como não temos como pegar todos os pedaços do pergaminho, não temos também como apagar todas as maledicências ditas por você sobre minha pessoa.