Entrevistado: Malco Camargos, prof. de Ciência Política/FAFICH/UFMG, coordenador do Instituto Ver.
- Em 2021, o Congresso realizou uma reforma política importante. A Câmara de Deputados tentou a volta das coligações, derrubada pelo Senado. Houve um grande aumento do Fundo Partidário e foi aprovado a federação partidária. Além disso, aprovou-se o peso dobrado para os votos em candidatos negros e candidatas mulheres na conta para distribuição dos recursos do Fundo Especial para Financiamento de Campanhas – FEFC, o Fundão Eleitoral. O critério beneficia PSOL, PCdoB, PT, Avante e PSL e não os partidos dos Presidentes da Câmara (Progressistas, ex-PP) e do Presidente do Senado (DEM). Criou-se ainda a figura da federação partidária, que dá nova dinâmica relação entre partidos. Apesar da relevância das mudanças, o fato é que o tema não chegou ao conhecimento do cidadão médio brasileiro. O que elas representam nesse momento político-institucional brasileiro? Como essas mudanças interferirão nas eleições de 2022?
- O Congresso Nacional rejeitou o veto presidencial ao aumento do valor do fundo eleitoral para 2022 para R$ 5,7 bilhões. No Orçamento para 2022, o relator previu apenas R$4,9 bilhões. Em 2020 o Fundo recebeu R$ 2,03 bilhões. Nas eleições de 2018, 34 dos 35 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à exceção do Partido Novo, receberam R$ 1,716 bilhão recursos do Fundo. Qual impacto desse aumento na dinâmica das eleições de 2022?
- As federações partidárias são a grande novidade na vida política brasileira. Têm como premissa uma comunhão político ideológica que não faz parte da cultura política nacional. Elas vão contribuir para redução do número de partidos? Como elas impactarão a disputa eleitoral e a composição do Congresso e Assembleias Estaduais?
- Como se articularão os institutos das coligações e das federações partidárias?
- Qual o impacto das federações nas eleições para Governador em Minas Gerais?
- Nas eleições presidenciais, o ex-Presidente Lula tem mantido liderança nas pesquisas até o momento. Lula foi preso, teve sua vida pessoal exposta, foi alvo de campanhas contra sua pessoa, mas, mesmo assim, mostrou impressionante resiliência. O voto espontâneo em Lula chega a 30%. Diante desse quadro, esse cidadão, que declara seu voto em Lula, seria mais do que um eleitor, um verdadeiro militante do ex-presidente? O sr concorda com essa afirmação? Essa condição tende a se manter ao longo da campanha?
- Apesar do desgaste que vem passando desde a pandemia, com crescente aumento da avaliação de ruim/péssimo de seu Governo (56% na pesquisa IPESPE de fev/22 em São Paulo), o Presidente Bolsonaro vem mantendo intenções de voto significativas, em torno de 24%. Este patamar tende a se manter durante a campanha? Para onde vai o voto de quem votou em Bolsonaro em 2018 e não avalia positivamente seu governo?
- Nas pesquisas divulgadas até o momento, o Governador Romeu Zema aparece liderando, com uma suposta possibilidade de vitória no primeiro turno. O Governo Zema não fez nenhuma grande realização. Contou, paradoxalmente, com o contexto da COVID e do crescimento da receita. Como explicar seu desempenho?
- Nas pesquisas divulgadas até o momento, o Governador Romeu Zema aparece liderando, com uma suposta possibilidade de vitória no primeiro turno. Pesquisa realizada pelo Instituto IPESPE em fev/22, não registrada, mostra que, entre a escolha espontânea e a estimulada, o Prefeito Alexandre passa de 4,0% para 24% e o governador Romeu Zema de 15,0% para 44%, ou seja, Kalil cresce 6 vezes, enquanto Zema apenas 3. Aliás, na estimulada, na Capital e Região Metropolitana, Kalil chega a 40% contra 28% de Zema. Isto não significa um potencial maior do atual prefeito de Belo Horizonte?
- A mesma pesquisa mostra que o apoio do candidato a Presidente tem grande importância para o eleitor. No voto estimulado, quando avaliado o apoio de Lula, no caso para a candidatura de Alexandre Kalil, o atual prefeito chega a 32% contra 38% de Romeu Zema, praticamente um empate técnico. A tendência da eleição de Governador é de ser “nacionalizada”?
- Há ainda uma grande indefinição do Prefeito Kalil quanto a suas alianças. Em princípio, parece que vai depender das definições nacionais do PSD, presidido por Gilberto Kassab. A expectativa é de que ele venha a compor com o partido dos Trabalhadores, embora circule nos bastidores que ele não gostaria dessa aliança. Ao mesmo tempo, empresários declararam abertamente interesse de que o Senador Alexandre Silveira também do PSD venha compor na chapa com o Governador Zema. Gostaria de saber sua avaliação sobre peso de um eventual apoio do PT à candidatura de Kalil e se há algum risco da candidatura não se confirmar. Além disso, o que pode influenciar a possível confirmação a candidatura do Prefeito de Betim, Vittorio Medioli?