Os iniciados no vocabulário e história da esquerda conhecem bem o significado e a importância do jornal Iskra (centelha, faísca), editado pelos bolcheviques no início do século XX.
Fazer propaganda, veicular ideias, orientações, documentos e informações através de jornais impressos foi uma tradição da esquerda que atravessou o século XX. E, mesmo neste século XXI, onde todos os países e povos, quase que de forma homogênea, cumprem o ciclo das tecnologias da informação e comunicação, ainda temos remanescentes dessa era, onde esses jornais ou tabloides foram uma espécie de “bíblia” para muitos.
Exemplos mais conhecidos disso são o Pravda, que na década de 1970, ainda existindo a União Soviética, chegou a ter tiragem de 10,6 milhões de exemplares, e o Granma, do PC Cubano, que resiste aos tempos. O Pravda foi o principal jornal da União Soviética entre 1918/1991. Privatizado em 1996 (foi parar na mão de um grupo grego) no processo de desconstituição da União Soviética, dividiu-se em editorias diferentes e uma delas continua a existir como órgão do PC da Federação Russa.
Todo esse nariz-de-cera acima é para mostrar que produzir jornais ou tabloides foi inerente à história dos partidos de esquerda no século XX. E que, por aqui, tivemos também alguns ensaios curiosos.
Corriam os anos iniciais da década de 1980 e as tarefas políticas principais por aqui eram a consolidação de um novo período democrático e a reorganização partidária, destruída pela ditadura militar em 1965 através do Ato Institucional nº 2, que dissolveu os partidos políticos existentes desde 1945.
Nesse esforço, a construção política e a legalização do Partido dos Trabalhadores envolviam múltiplas tarefas e abnegação de muitos. Arrecadar recursos, mobilizar militantes, constituir diretórios municipais, cumprir a legislação eleitoral e encontrar meios de fazer a comunicação “de massa”. E, nesse último item, claro, não poderia faltar a ideia de produzir jornais ou tabloides.
E foi numa dessas muitas incursões pelo interior de Minas que encontrei na cidade de Moeda um jovem cheio de boas ideias e interessado em engrossar as fileiras de um partido político novo, genuíno e dos trabalhadores. E, para tal empreitada, ele propunha inicialmente criar… um jornal!
Eureka!, ou melhor, Iskra!, pensei.
Conversas iniciais avançadas, necessidade de fazer o diretório municipal, arregimentar interessados, fazer filiação partidária e todas essas coisas de difícil trato. Mas o moço só manifestava interesse mesmo era em fazer um jornal. Vá lá que comece por aí e a coisa ganhe espaço e adeptos, pensei. E dei força pra ideia!
Semanas depois retorno a Moeda para ver como iam as coisas. E veio lá o jovem cheio de entusiasmo com o esboço do jornal e um vistoso título ornamentando a primeira página: “De Nada Adianta!”
Putz! Pelas barbas do Fidel!, pensei comigo. Em tempos de utopia isso é a antiutopia! E como não sou de desmanchar entusiasmos juvenis, fui desconstruindo a ideia do jornal até recolocá-lo nas “prioridades não essenciais”. E como me falha a memória, não sei qual fim levou o outrora promissor Iskra Moedense. E fui faiscar noutro garimpo.