Coerência contado por Wieland
Em 1985, aconteceram eleições diretas nas capitais, até então consideradas áreas de segurança nacional pelos Governos Militares. Virgílio Guimarães e João Batista dos Mares Guia, que era deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores– o primeiro a ser eleito, disputaram ferozmente a indicação pelo Partido para o pleito em Belo Horizonte. Em uma convenção realizada em um domingo com a presença do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, Mares Guia foi derrotado por cerca de 40 votos de diferença. Na segunda-feira, Robinson Ayres, que era Diretor de Planejamento da Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Belo Horizonte, foi chamado pelo Secretário de Planejamento Walfrido dos Mares Guia ao seu gabinete.
- Robinson, não tem como você, que fez o programa do Virgílio, continuar a trabalhar comigo, que sou irmão do João. E junto vão os outros dois que trabalham com você!
Os outros dois eram Luís Henrique de Oliveira Cunha e Wieland Silberschneider, petistas, assessores que trabalhavam na Diretoria de Planejamento, que tiveram apenas a própria segunda para esvaziarem suas gavetas.
Casamento e Militânciacontado por Wieland
Era 1981. Duas chapas de oposição sindical dos metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem, uma com militantes do PCdoB e outra com integrantes do MR8, tentavam tirar do sindicato seu então presidente, João Silveira, que aí se mantinha há cerca de 12 anos. Uma vitória representaria uma importante conquista naquele momento da Abertura para o movimento social em Minas Gerais.
Naquela semana, o casal de militantes do movimento estudantil da UFMG, Marcelo Pertence e Cristiana (Piú) estavam com casamento marcado. Fizeram uma grande festa a qual compareceram vários companheiros. Já no início da madrugada, no entusiasmo de contribuir com a Oposição Sindical, acabaram a festa e saíram para pichar palavras de ordem na região da Cidade Industrial/Contagem.
No meio da madrugada, foram presos mais de 20 militantes da organização Democracia Socialista. Conta a lenda que houve denúncia de um militante do MR8, visto que a ação era para a outra chapa. Foi a maior prisão do Governo Militar desde o início da chamada Abertura. No dia seguinte, diversas pessoas compareceram ao portão do DOPS da Av. Afonso Penna, onde todos estavam presos. A liberação aconteceu por interveniência de D. Helena Grecco, na época dirigente do Movimento Feminino pela Anistia em Minas Gerais. O delegado disse que não ia liberar, porque era sábado. Do alto de seus 65 anos, D. Helena ameaçou fazer greve de fome na porta do DOPS. Os companheiros foram libertados e a Oposição Sindical perdeu a eleição. Demoraria até 1984 para a Convergência Socialista conquistar o sindicato.
Politicamente Incorretocontado por Riani
Assessor Político de importância da base de Fernando Pimentel tinha acabado de chegar à Assembleia Legislativa de Minas Gerais no início do governo para atuar nas articulações. Deputado, pastor evangélico, que não conhecia o moço, chamou-o num canto e rezou a missa para o assessor, que, diga-se de passagem, já tinha estrada. Antes de se retirar, resumiu sua preleção:
- Deputado é igual ‘prostituta’. Se não der dinheiro, tem que dar carinho.
Essa foi a tônica do referido assessor durante os 04 anos: deu muuuuiiito … carinho para os deputados!!!
Exercitando o carinho contado por Riani
O Deputado tinha sido eleito pelo PTB. Queria ficar com o Governo Pimentel, mas estava no bloco de oposição. Queria a nomeação do diretor de Presídio na Zona da Mata e de mais dois cargos por lá.
A assessoria política do governo na Assembleia seguia a cartilha de dar carinho, administrando como podia a pressão do Deputado. O Governo, entretanto, resistia em recebê-lo, fazendo o pessoal passar aperto. A Secretaria de Governo já havia avisado que não iria nomear pessoas indicadas por dele.
Um dia, o deputado já cansado do lenga-lenga chama o assessor e desabafa:
- Caríssimo, você me conhece? - Claro deputado! - Eu não estou na vida pública por causa dinheiro. Aliás, perco dinheiro aqui. Eu não estou aqui por causa de poder. Minhas empresas me dão esse poder. Eu estou aqui por causa de prestígio. Se eu não conseguir nomear 3 pessoas para a cadeia da minha cidade, cadê o prestígio? Eu posso sumir disso. Vai ser a a maior prova de falta de prestígio que terei na vida.
No mesmo dia, o assessor contou a história no Governo. Todos se sensibilizaram. As nomeações saíram no dia seguinte.
Meu reino por uma foto contado por Riani
Um querido deputado da Zona da Mata deu uma entrevista numa rádio local. Nessa entrevista, dentre outras coisas ditas, contou que havia tomado um café com o Governador Pimentel. A rádio querendo provar a mentira dele foi atrás da agenda do Governador do dia anterior. Descobriu que o nobre deputado não tinha sido recebido. A rádio, então, deu a notícia sobre a inverdade.
No dia seguinte, pegou o telefone do seu contato político no governo, de quem era muito chegado:
- Meu caro, a rádio está falando umas mentiras contra mim lá. Você não teria alguma foto minha com você aí no Palácio?
