O Charuto e o Reacionário

Clodesmidt Riani, político e sindicalista mineiro, foi deputado estadual por quatro legislaturas: 1954/58, 1958/62 (ficou na primeira suplência e assumiu na sequência), 1962/66 (cassado) e 1982/86. Eleito pelo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, ele relata, em suas memórias (Clodesmidt Riani: Trajetória, Ed. UFJF, pp. 70-71), os embates na primeira legislatura.

“Eu ficava na maior ansiedade: vou falar ou não, não tinha quem escrevesse para mim, não tinha uma secretária para bater máquina. Como fazer?

Os companheiros, não os conhecia, eram de lugares diferentes. Então, foi um pouco difícil.

Mas, dentro da minha modéstia, no dia 12 de fevereiro (1955), pronunciei o meu discurso lá. Pedi ao líder que me desse uma cobertura, que os deputados me ajudassem, pois ia fazer a minha estreia.

Foi um discurso político e rápido. José Cabral, um advogado muito bom, cioso de sua situação era líder da UDN – União Democrática Nacional.

Sentou-se na primeira fileira com o pai do Deputado Aécio Neves, o Aécio Cunha, do PR – Partido Republicano. Na hora da minha fala, nem bem comecei o discurso, pediu um aparte. Eu falei:

- Companheiro, espere que eu estou começando agora.

Ele retrucou:

- Excelência, eu quero primeiro esclarecer que aqui não se usa o tratamento companheiro, mas colega, Excelência...

Agradeci, dizendo que teria muito que aprender como operário que era e que esperava os ensinamentos dos professores. Quer dizer, acabei levando vantagem, porque ele teve que se assentar. Ficou para depois.

Em outro momento, falei de alguns reacionários e, quando disse a palavra ‘reacionário’, ouvi o José Cabral falar para o Aécio:

- Pergunta para ele o que é reacionário que ele não sabe.

Quando pediu novamente o aparte, cedi e ele pediu para que eu esclarecesse o que era reacionário. Aí, eu descansei e falei:

- Ô companheiro, nobre colega, reacionário é uma pessoa igual ao pai de Vossa Excelência, que é do PR, que quer barrar a candidatura do Dr. João Goulart a Vice-presidente da República. É igual ao pai de Vossa Excelência que, quando nós conseguimos o auxílio família, o salário família para os trabalhadores brasileiros, foi vetado pelo Presidente Dutra. Eu fui ao Rio de Janeiro a chamado do movimento sindical e, lamentavelmente, o Congresso Nacional votou a favor do veto do Presidente e o pai de Vossa Excelência, que estava com um charuto na boca, ia de poltrona em poltrona pedindo voto. Isso que é ser reacionário.

Aí eu já fui bravo.

O Padre Vidigal, que era do PSD – Partido Social Democrático, gritou:

- Muito bem, é isso mesmo! O PR é assim mesmo!

Dá umas quarenta páginas, os apartes que esse problema criou, porque o PSD era contra o PR. A UDN entrou no meio, o PTB também”.