Eleições 2024: normalidade após 2020 e 2016 ou não?

Eleições para prefeitos e vereadores em outubro de 2024 estão a caminho! Após dois pleitos realizados sob realidades completamente anômalas, qual cenário nos aguarda?

Embora os contextos de cada um dos dois pleitos passados não tenham como se repetir, certamente a polarização política continuará ativada e a comunicação a partir das redes sociais será reinventada com os mecanismos de inteligência artificial, que clonam imagens e vozes com realismo perturbador. Por sua vez, 2024 aguarda ansiosamente a conclusão da apuração das responsabilidades pelo episódio de 08 de janeiro/23. O indiciamento ou não de militares e/ou do ex-presidente Bolsonaro em razão desse episódio ou pelos demais (joias, cartão de vacina), que envolvem o ten. cel. Mauro Cid, ainda preso, está no horizonte. Será um ato político-legal não visto nem no fim da Ditadura Militar de 64. Alimentará a polarização, quem sabe nos meses que antecederão as eleições. A isto, deverão se juntar os desdobramentos da operação que apura as escutas ilegais realizadas pela Agência Brasileira de Inteligência – ABIN durante o Governo Bolsonaro. A disputa eleitoral entre Biden e Trump também deverá transbordar seus efeitos por aqui.

2016 foi o ano de um terremoto político marcado pelo impeachment da Presidente Dilma Roussef! Em 17 de março, Lula, ao mesmo tempo em que tomou posse como Ministro da Casa Civil de Dilma, viu ela ser suspensa por ordem judicial. Em 13 de março, ocorreriam manifestações em apoio ao impeachment da Presidente em todo o país, o que se repetiria em 31 de julho. Em 11 de abril, Comissão Especial do Congresso Nacional viria a aprovar a abertura do processo contra Dilma. Em 31 de agosto, o Senado concluiria o processo, cassando o mandato da presidente. 

Ainda em 2016, a Operação Lava Jato atuaria a todo vapor, com uma enxurrada de grampos, denúncias, prisões. Em março, a Polícia Federal bateria à porta do ex-Presidente lula, em São Bernardo do Campo. Em outubro, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) seria preso em Brasília, seis dias depois de se tornar réu. Em dezembro, Geraldo Alckmin e José Serra, então no PSDB, seriam citados em depoimentos de diretores e ex-diretores da Odebrecht em acordo de delação premiada, por receberem dinheiro ilegal para suas duas últimas campanhas ao governo do estado.

Em relação a 2012, nas eleições de 2016 passou a ser vedada a doação por pessoa jurídica e foi diminuído o tempo de campanha, que passou de 90 para 45 dias. A propaganda eleitoral em rádio e televisão passou de 43 para 35 dias. 

O resultado eleitoral de 2016 consagrou candidatos conservadores com discurso à direita, pavimentando a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. ACM Neto (DEM) foi reeleito em Salvador, com 74% dos votos, e João Doria (PSDB) saiu vitorioso em São Paulo com 54% dos votos, ambos no primeiro turno, derrotando Fernando Haddad (PT). No Rio de Janeiro, o então Senador Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal, elegeu-se contra Marcelo Freixo (PSOL). Em Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), com retórica de negação da política, venceu o Deputado João Leite (PSDB) no segundo turno. 

O Partido dos Trabalhadores – PT amargaria forte derrocada eleitoral. De 638 prefeituras conquistadas em 2012, em 2016, o partido elegeria apenas 254 prefeitos, cerca de 40% do que havia conquistado anteriormente.

Em 2020, o país parou em razão do coronavírus! O país viveu, a cada dia, as trágicas consequências da pandemia e alimentadas pelo negacionismo do Governo Bolsonaro. O pleito atingiu o recorde de abstenções no primeiro turno de 23,12% de eleitores ausentes, ao contrário das eleições presidenciais de 2018 e as municipais de 2016 e 2012 em que esse percentual foi, respectivamente, de 20,33%, 17,58% e de 16,45%.

Em 11 de março a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia global de Covid-19. No dia 16 de março, é informada a primeira morte no país. Em abril, o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pediu exoneração do cargo, devido a divergências com o Presidente Jair Bolsonaro sobre o isolamento social, assumindo em seu lugar o General Eduardo Pazuello. Ainda neste mês, o então Ministro Sérgio Moro pediria demissão do Ministério da Justiça, afirmando que Bolsonaro tentativa interferir politicamente na Polícia Federal, o que gerou a abertura de inquérito contra o presidente. Em julho, na disputa pelo protagonismo no combate à pandemia, o Governador João Doria anunciava que o Instituto Butantã iria produzir vacina contra a COVID-19. Em agosto, o Superior Tribunal de Justiça – STJ, o governador do Rio, Wilson Witzel, foi afastado do cargo por suspeita de participação em esquema de corrupção. Em novembro, haviam sido contabilizados 167 mil óbitos causados peno novo coronavírus.

O contexto político consolidou a polarização vivenciada em 2016 e renovada pela disputa à presidência de 2018. Prefeitos candidatos à reeleição que tiveram comportamento proativo e solidário no enfrentamento à COVID tiveram bom desempenho eleitoral, como mostra a reeleição de 10 prefeitos em capitais dentre 13 que tentaram.
A polarização política, que teve seu auge em 2018, permaneceu, com novas características. Quem esperava que Jair Bolsonaro fosse um ótimo cabo eleitoral, perdeu a aposta. Dos 13 candidatos a prefeito apoiados pelo então Presidente, 11 foram derrotados. Por outro lado, impulsionados pela Emenda Constitucional nº 105/19, que criou as hoje conhecidas ‘emendas-pix’, é o ambiente político nacional conservador, os partidos integrantes do Centrão (PPP, PSD, PL, PTB, Republicanos, PSC, Solidariedade, Avante, Patriota e Pros) saíram vitoriosos em 45% dos municípios.
Lula, embora libertado em novembro de 2019, só veria a reversão da narrativa que o levou à prisão a partir de 2021, com a anulação das condenações relacionadas à Lava-Jato pelo Ministro do STF, Édson Fachin. Não conseguiu influenciar amplamente naquele período eleitoral.

De acordo com o cientista político Felipe Nunes, “a nova disputa de torcidas tem tudo para chegar aos pleitos municipais de 2024”. Lula e Bolsonaro continuam tendo, cada um, imagem positiva em pelo menos um terço do eleitorado brasileiro. Ambos precisam melhorar o desempenho de seus respectivos partidos nas prefeituras, devendo priorizar as disputas das grandes cidades brasileiras, cujos resultados anteciparão as condições da sucessão presidencial em 2026. Nos municípios em geral, os candidatos competitivos irão se organizar em torno de ambas lideranças.
Neste contexto, a polarização continuará na ordem do dia. Os episódios envolvendo os inquéritos de 8 de janeiro, das joias da Presidência, da falsificação do cartão de vacina de Bolsonaro e das escutas ilegais realizadas a partir da Abin irão pontuar o embate nos meses que antecederão as eleições em outubro de 24.

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